segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA - PNAN


Hoje dei início a reta final da minha graduação em Nutrição. Na reunião de estágio, fiquei sabendo que meu primeiro local de estágio será em UBS (Unidade Básica de Saúde)... e achei conveniente revisar e publicar (a quem possa interessar) alguns assuntos importantes relacionados a atuação do nutricionista em equipes multidisciplinares de atenção básica da população e também revisar conteúdos vistos na disciplina de Nutrição e Saúde Coletiva.

PNAN
Já ouviu falar em PNAN? (Pode ler "Pinãn" mesmo! Rs). PNAN significa Política Nacional de Alimentação e Nutrição e integra a Política Nacional de Saúde, além de estar inserida no contexto de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN).


Tem como propósito a melhoria das condições de alimentação, nutrição e saúde da população brasileira, mediante a promoção de práticas alimentares adequadas e saudáveis, a vigilância alimentar e nutricional, a prevenção e o cuidado integral dos agravos relacionados à alimentação e nutrição.

Um dos principais objetivos do PNAN, é garantir a SAN, que é o direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis.

Diretrizes PNAN

Quem tiver interesse, é possível baixar as diretrizes todas do PNAN no site do Departamento de Atenção Básica, que o portal de Saúde do governo, link aqui.

Transição Nutricional

Nas últimas décadas, a população brasileira passou por diversas transformações sociais que impactaram consumo alimentar e consequentemente seu padrão de saúde. Antigamente a desnutrição era o maior problema de saúde da população, principalmente nas crianças. Hoje em dia temos observado uma diminuição nos casos de desnutrição e um crescimento nos casos de obesidade. A essa mudança damos o nome de transição nutricional. Apesar disso, ainda temo cerca de 16 milhões de brasileiros vivendo na extrema pobreza (renda per capita mensal de até R$ 70).

A alimentação e nutrição estão presentes na legislação recente do Estado Brasileiro, com destaque para a Lei 8080, de 19/09/1990 (BRASIL, 1990), que entende a alimentação como um fator condicionante e determinante da saúde e que as ações de alimentação e nutrição devem ser desempenhadas de forma transversal às ações de saúde, em caráter complementar e com formulação, execução e avaliação dentro das atividades e responsabilidades do sistema de saúde. 

Ações, Programas e Estratégias do governo relacionadas a Nutrição

Academia da Saúde: O Programa Academia da Saúde foi lançado pelo Ministério da Saúde (MS) em 2011 como estratégia de promoção da saúde e produção do cuidado para os municípios brasileiros. Seu objetivo é promover práticas corporais e atividade física, promoção da alimentação saudável, educação em saúde, entre outros, além de contribuir para produção do cuidado e de modos de vida saudáveis e sustentáveis da população. Para tanto, o Programa promove a implantação de polos do Academia da Saúde, que são espaços públicos dotados de infraestrutura, equipamentos e profissionais qualificados.

Amamenta e Alimenta Brasil: A "Estratégia Nacional para Promoção do Aleitamento Materno e Alimentação Complementar Saudável no SUS - Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil", lançada em 2012, tem como objetivo qualificar o processo de trabalho dos profissionais da atenção básica com o intuito de reforçar e incentivar a promoção do aleitamento materno e da alimentação saudável para crianças menores de dois anos no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Essa iniciativa é o resultado da integração de duas ações importantes do Ministério da Saúde: a Rede Amamenta Brasil e a Estratégia Nacional para a Alimentação Complementar Saudável (ENPACS), que se uniram para formar essa nova estratégia, que tem como compromisso a formação de recursos humanos na atenção básica. A Coordenação-Geral de Alimentação e Nutrição (CGAN/DAB/SAS) e a Área Técnica de Saúde da Criança e Aleitamento Materno (ATSCAM/DAPES/SAS), do Ministério da Saúde, em parceria com as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, são os responsáveis pela formulação das ações da nova estratégia, que visa colaborar com as iniciativas para a atenção integral da saúde das crianças. Elas têm como princípio a educação permanente em saúde e como base a metodologia crítico-reflexiva que é desenvolvida por meio de atividades teóricas e práticas, leituras e discussões de texto, troca de experiência, dinâmicas de grupo, conhecimento da realidade local, sínteses e planos de ação. Como exemplo dessas discussões estão o manejo do aleitamento materno, prática da alimentação complementar, desenvolvimento infantil, Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN), entre outros. 

Doenças Crônicas: As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) constituem um problema de saúde de grande magnitude, correspondendo a 72% das causas de mortes. Assim, o Departamento de Atenção Básica vem trabalhando, em parceria com outros departamentos da Secretaria de Atenção à Saúde e com outras Secretarias do MS, para a melhoria do cuidado às pessoas com doenças crônicas. O MS elaborou, entre outras ações, o Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis no Brasil, 2011-2022, que visa promover o desenvolvimento e a implementação de políticas públicas efetivas, integradas, sustentáveis e baseadas em evidências para a prevenção e o cuidado das DCNT e seus fatores de risco e fortalecer os serviços de saúde voltados às doenças crônicas. No terceiro componente do plano, cuidado integral, insere-se a construção da Rede de Atenção à Saúde (RAS) das Pessoas com Doenças Crônicas. Nesse momento, o enfoque da RAS será em quatro temas por serem epidemiologicamente mais relevantes, são eles: as doenças renocardiovasculares (hipertensão arterial sistêmica, Diabetes mellitus e insuficiência renal crônica), a obesidade, o câncer e as doenças respiratórias. 

Melhor em Casa: A atenção domiciliar visa a proporcionar ao paciente um cuidado contextualizado a sua cultura, rotina e dinâmica familiar, evitando hospitalizações desnecessárias e diminuindo o risco de infecções. O nutricionista poderá compor a equipe multiprofissional de apoio (EMAP). A EMAP deverá oferecer apoio à EMAD, bem como às equipes de atenção básica (inclusive equipes de Saúde da Família e Núcleos de Apoio à Saúde da Família). Sua composição mínima deverá conter 3 (três) profissionais de nível superior, escolhidos entre oito diferentes ocupações: 
  • Assistente social;
  • Fisioterapeuta;
  • Fonoaudiólogo;
  • Nutricionista;
  • Odontólogo;
  • Psicólogo;
  • Farmacêutico; e
  • Terapeuta ocupacional 
NASF: Os Núcleos de Apoio à Saúde da Família são equipes multiprofissionais que atuam de forma integrada com as equipes de Saúde da Família (eSF), as equipes de atenção básica para populações específicas (consultórios na rua, equipes ribeirinhas e fluviais) e com o Programa Academia da Saúde. Poderão compor os NASF as seguintes ocupações do Código Brasileiro de Ocupações (CBO): 
Médico acupunturista; assistente social; profissional/professor de educação física; farmacêutico; fisioterapeuta; fonoaudiólogo; médico ginecologista/obstetra; médico homeopata; nutricionista; médico pediatra; psicólogo; médico psiquiatra; terapeuta ocupacional; médico geriatra; médico internista (clínica médica), médico do trabalho, médico veterinário, profissional com formação em arte e educação (arte educador) e profissional de saúde sanitarista, ou seja, profissional graduado na área de saúde com pós-graduação em saúde pública ou coletiva ou graduado diretamente em uma dessas áreas.

NutriSUS: É uma Estratégia de fortificação da alimentação infantil com micronutrientes em pó   (NutriSUS) que consiste na adição direta de nutrientes à alimentação oferecida às crianças de 6 meses a 3 anos e 11 meses em creches.

Prevenção e controle de agravos nutricionais (PCAN) como Deficiência de Ferro, de Iodo, de Vit. A, de Vit. B1 - Beribéri, Desnutrição, excesso de peso e obesidade e necessidades alimentares especiais*. cPara conhecer os programas específicos de cada agravo nutricional clique aqui.

*Além dos agravos nutricionais mencionados acima, a PNAN também reconhece as necessidades alimentares especiais como demanda para a atenção nutricional no SUS, referidas na política como sendo as necessidades alimentares, sejam restritivas ou suplementares, de indivíduos portadores de alteração metabólica ou fisiológica que cause mudanças, temporárias ou permanentes, relacionadas à utilização biológica de nutrientes ou a via de consumo alimentar (enteral ou parenteral). Dessa forma, são exemplos: erros inatos do metabolismo, doença celíaca, HIV/aids, intolerâncias alimentares, alergias alimentares, transtornos alimentares, prematuridade, nefropatias, entre outros. 

Práticas Integrativas e Complementares: O campo das práticas integrativas e complementares contempla sistemas médicos complexos e recursos terapêuticos, os quais são também denominados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de medicina tradicional e complementar/alternativa (MT/MCA). Tais sistemas e recursos envolvem abordagens que buscam estimular os mecanismos naturais de prevenção de agravos e recuperação da saúde por meio de tecnologias eficazes e seguras, com ênfase na escuta acolhedora, no desenvolvimento do vínculo terapêutico e na integração do ser humano com o meio ambiente e a sociedade. Outros pontos compartilhados pelas diversas abordagens abrangidas nesse campo são a visão ampliada do processo saúde-doença e a promoção global do cuidado humano, especialmente do autocuidado. Com a publicação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), a homeopatia, as plantas medicinais e fitoterápicas, a medicina tradicional chinesa/acupuntura, a medicina antroposófica e o termalismo social-crenoterapia foram institucionalizados no Sistema Único de Saúde (SUS).

Rede Cegonha: É uma estratégia do Ministério da Saúde que visa implementar uma rede de cuidados para assegurar às mulheres o direito ao planejamento reprodutivo e a atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério, bem como assegurar às crianças o direito ao nascimento seguro e ao crescimento e desenvolvimento saudáveis. 

Saúde na Escola (PSE): A articulação entre Escola e Rede Básica de Saúde é à base do Programa Saúde na Escola. O PSE é uma estratégia de integração da saúde e educação para o desenvolvimento da cidadania e da qualificação das políticas públicas brasileiras.

Vigilância Alimentar e Nutricional: A avaliação contínua do perfil alimentar e nutricional da população e seus fatores determinantes compõe a Vigilância Alimentar e Nutricional (VAN). Recomenda-se que nos serviços de saúde seja realizada avaliação de consumo alimentar e antropometria de indivíduos de todas as fases da vida (crianças, adolescentes, adultos, idosos e gestantes) e que estas observações possam ser avaliadas de forma integrada com informações provenientes de outras fontes de informação, como pesquisas, inquéritos e outros Sistemas de Informações em Saúde (SIS) disponíveis no SUS.

Para exercer a Vigilância Alimentar e Nutricional ampliada é importante a adoção de diferentes estratégias de vigilância epidemiológica, como inquéritos populacionais, chamadas nutricionais, produção científica, com destaque para a VAN nos serviços de saúde. Estas estratégias juntas irão produzir um conjunto de indicadores de saúde e nutrição que deverão orientar a formulação de políticas públicas e também das ações locais de atenção nutricional.

Ações Estratégicas do PNAN

  • Vigilância Alimentar e Nutricional
  • Promoção da Saúde e da Alimentação Adequada e Saudável
  • Prevenção e Controle de Agravos Nutricionais
  • Programa Bolsa Família
  • Pesquisa, Inovação e Conhecimento

Saiba mais sobre cada uma delas aqui.

TRÊS GRANDES DESAFIOS
  1. Epidemiológico (Obesidade/ Doenças crônicas + carências nutricionais ) - Medidas regulatórias e plataforma de ações articuladas
  2. Organização da nutrição na atenção primária com capacidade de territorializar a segurança alimentar e nutricional 
  3. Controle social, institucionalidade, financiamento, descentralização da PNAN (Capacidade de Gestão) conferindo efetividade 

De todas essas ações do PNAN, tem uma especificamente que acho muito interessante, a PAAS, que é uma das vertentes da PROMOÇÃO A SAÚDE, significa PROMOÇÃO da ALIMENTAÇÃO ADEQUADA e SAUDÁVEL. 

A PAAS objetiva a melhora da qualidade de vida da população, por meio de ações intersetoriais, voltadas ao coletivo, aos indivíduos e aos ambientes (físico, social, político, econômico e cultural), de caráter amplo e que possam responder às necessidades de saúde da população, contribuindo para a redução da prevalência do sobrepeso e obesidade e das doenças crônicas associadas e outras relacionadas à alimentação e nutrição. 

A responsabilidade das equipes de saúde com relação à PAAS deve transcender os limites das unidades de saúde, inserindo-se nos demais equipamentos como espaços comunitários de atividade física e práticas corporais, escolas e creches, associações comunitárias, redes de assistência social e ambientes de trabalho, entre outros.

Concluindo...

Esta atuação integrada entre os diversos profissionais nas UBS permite realizar discussões de casos clínicos, possibilita o atendimento compartilhado entre profissionais tanto na Unidade de Saúde como nas visitas domiciliares, permite a construção conjunta de projetos terapêuticos de forma que amplia e qualifica as intervenções no território e na saúde de grupos populacionais. Essas ações de saúde também podem ser intersetoriais, com foco prioritário nas ações de prevenção e promoção da saúde.

O legal é que esses programas existem, resta saber se há profissionais o bastante para atender a demanda da população... ou melhor dizendo, os profissionais existem, mas o governo não contrata o suficiente... me corrijam se eu estiver equivocada por favor! 

Bem... sobre os programas que tem relação com a nutrição e saúde da população foi isso, para se aprofundarem nesse tema basta acessar o site do governo no link abaixo. Espero que tenham gostado e até o próximo post, que poderá até ser um relato da minha primeira semana de estágio em UBS!

Beijos e uma ótima semana!!
Jéssica

Fonte: Portal da Saúde do Governo. Acesse aqui!



quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

INTRODUÇÃO AO METABOLISMO DOS LIPÍDIOS


Principais características dos lipídios

Os lipídios são caloricamente falando mais densos que os carboidratos, ou seja, possuem 9kcal por grama. A sua oxidação rende, portanto, mais que o dobro de energia por grama do que a oxidação dos carboidratos (4kcal/g).
Por serem hidrofóbicos não são hidratados, desta forma o organismo armazena lipídio como combustível sem precisar carregar peso extra referente a água, como ocorre com os polissacarídeos (carboidratos).

Diferença entre Óleos (insaturados) e Gorduras (saturadas)

Óleos são líquidos à temperatura ambiente e Gorduras são sólidas a temperatura ambiente (considerando pela legislação uma temperatura limite de 20oC). Já os azeites são os óleos provenientes de frutos, como Oliva e Dendê por exemplo.

Classificação dos Lipídios

Os lipídios podem ser classificados de acordo com a hidrólise em:
  • Simples: Ácidos graxos (AG), triglicerídeos, diglicerídeos, monoglicerídeos (esses 3 são ésteres formados a partir de AG e glicerol chamados de glicerídeos), ceras (ésteres de AG com elevada taxa de álcoois, podem ser ésteres esteróis formados de colesterol e AG ou ésteres não esteróis formados de vitamina A).
  • CompostosFosfolipídios (formados a partir de glicerol, AG, Ác. Fosfórico e outros grupos normalmente nitrogenados como o Ác. Fosfotídicos - lecitina e cefalinas; Plasmalógenos e Esfingomielinas), Glicolipídios (associados com Carboidratos) e Lipoproteínas (associados com proteínas).
  • Derivados formados pela quebra de lipídios neutros e compostos (Isopenoides, terpenos, vitaminas lipossolúveis, carotenoides, clorofila e esteróis (colesterol e sais biliares) – estes últimos precursores de hormônios e constituintes da bile.

Podem também ser classificados em:
  • Neutros
  • Anfipáticos
E ainda em:
  • Lipídios Estruturais
  • Lipídios de Reserva
Porém nenhuma dessas classificações é relevante para a nutrição, assim vou resumir os principais tipos de lipídios abaixo:

TRIACILGLICERÓIS (TAG) Guarde este nome que ele é bem importante!
São ésteres com uma molécula de Glicerol (que é um álcool) e três moléculas de Ácidos Graxos (ácidos carboxílicos):


São responsáveis por quase 95% da gordura dietética (gordura ingerida na alimentação). 
Quando usados para energia (oxidação), os TAG são liberados em forma livre (não esterificada): Ácidos Graxos livres. Ou seja, os TAG sofrem a atividade da enzima lipase e os AG livres são transportados pela proteína transportadora albumina para vários tecidos do organismo para sofrer oxidação e liberar energia.

CERAS
São ésteres formados por um álcool de cadeia longa e um AG de cadeia longa (24 a 30 átomos de Carbono):



FOSFOLIPÍDIOS
Possuem uma molécula de fosfato na sua estrutura e são subdivididos em Glicerofosfolipídios (uma molécula de Glicerol e duas de AG, mais um fosfato e um grupo polar variável unido ao fosfato) e Esfingolipídios (uma molécula de esfingosina mais um AG e um fosfato ligado à colina):

Fosfolipídios:

Esfingolipídios:
Esfingolipídios


GLICOLIPÍDIOS
Formados pela esfingosina juntamente com um AG, mas não possuem fosfato e sim um Carboidrato podendo ser Glicose ou Galactose:



ESTERÓIS e DERIVADOS
Possuem um núcleo esteroide (colesterol quando origem animal e fitosterol quando origem vegetal).




OUTROS
Vitaminas lipossolúveis (A, E, K) e pigmentos (Carotenos, clorofila, licopeno):








Os lipídios que NÃO contém Ácidos Graxos NÃO são saponificáveis. As vitaminas lipossolúveis e o colesterol são os principais representantes destes lipídios que não são energéticos, mas desempenham funções fundamentais ao nosso metabolismo.
Isso quer dizer que as vitaminas não serão armazenadas em forma de tecido adiposo, elas tem outras funções como co-fatores de enzimas em diversas reações químicas no nosso metabolismo.

 Os lipídios com Ácidos Graxos na sua composição são saponificáveis (saponinas). São biomoléculas mais energéticas, que fornecem Acetil-coA para o Ciclo de Krebs.

Ou seja, os Ácidos Graxos  são os responsáveis pelo fornecimento energético e reserva energética proveniente dos lipídios da dieta, como veremos mais a frente.

Abaixo coloquei uma classificação geral dos lipídios que vimos acima: 



Então, já que os AG são os grandes responsáveis pela energia que vem dos lipídios (para não dizer "pneuzinhos"), vamos aprofundar um pouco mais no estudo dessas estruturas.

ÁCIDOS GRAXOS

De acordo com o grau de saturação da cadeia lateral (presença de duplas ligações), os ácidos graxos são classificados em:
  • Saturados: quando não possuem duplas ligações na cadeia lateral.
  • Insaturados: quando possuem, sendo Monoinsaturados no caso de apenas uma dupla ligação, e polinsaturados no caso de duas ou mais duplas ligações.

Vocês irão encontrar também os termos PUFA  e MUFA, na descrição das gorduras de alguns alimentos. É a abreviação dos termos em inglês:
PoliUnsaturedFAt e MonoUnsaturedFAt

De acordo com o tipo de cadeia lateral eles podem ser lineares, ramificados, cíclicos ou hidroxilados.

De acordo com o número de carbonos eles podem ser pares ou ímpares; de cadeia curta (2 a 8 Carbonos), cadeia média (8 a 14 C), cadeia longa (>14C).

De acordo com a necessidade deles na nossa dieta, eles podem ser essenciais ou não essenciais.



Nos AG Insaturados no local da dupla ou das duplas ligações, pode haver uma ISOMERIA (quando os compostos apresentam a mesma fórmula molecular, mas com fórmulas estruturais diferentes, sendo chamados de isômeros).

Isômeros CIS: estrutura dobrada para trás, torcendo a molécula em "U", ocorre naturalmente na natureza.


Isômeros TRANS: alargamento da molécula em um modelo linear semelhante aos AG saturados, ocorre naturalmente em apenas algumas gorduras. Normalmente deriva da hidrogenação parcial de óleos e gorduras como margarinas e óleos que passam por aquecimento. CAUSAM DOENÇAS CARDIOVASCULARES.





Futuramente vou elaborar um post falando somente das gorduras TRANS e o porquê delas serem vilãs.

NOMENCLATURA DOS ÁCIDOS GRAXOS

A nomenclatura dos AG é feita através do sistema Delta (Δ), que mostra o comprimento da cadeia de AG e o número e posição de todas as duplas ligações existentes.

Primeiro deve-se contar o número de Carbonos iniciando a contagem na extremidade carboxílica (COOH) do AG:


Além do sistema Delta (Δ), existe o sistema Ômega (ω), que situa a posição das duplas ligações contando o Carbono a partir do grupo Metil ou ômega (ω):



ÁCIDOS GRAXOS ESSENCIAIS


Os ômegas 3, 6 e 9 são os ácidos graxos essenciais para a alimentação humana, pois são sintetizados por plantas, mas não pelo corpo humano, podendo ser encontrados em plantas e peixes:


  • Ácido linolênico (ômega-3) que está presente em grande quantidade nos peixes (especialmente o salmão) e óleos de peixe; 
  • Ácido linoléico (ômega-6), presente nos óleos vegetais (soja, milho, girassol).
  • Ácido oléico (ômega 9), está presente em alta concentração no óleo de sementes de uva, óleo de canola, óleo de gergelim, óleo de girassol, óleo de soja, óleo de palma, azeite de oliva e em animais marinhos, como o tubarão e bacalhau. 
Digestão e Absorção dos Lipídios


Como já disse acima quando falei dos TAG, a maior parte dos lipídios ingeridos na nossa alimentação são em forma de triacilglicerol, que precisa ser "quebrado" em ácidos graxos livres para poder ser absorvido pelo nosso epitélio intestinal.


Na boca
A digestão começa na boca com a salivação e mastigação, onde as glândulas serosas da língua liberam a enzima lipase lingual junto com a saliva. O processo de mastigação devido à sua ação mecânica de esmagar faz com que a superfície do alimento se amplifique, criando maior área de atuação da enzima. Nessa etapa, pequenas quantidades de gordura são hidrolisadas, pois há uma preferencia por ácidos graxos de cadeia mais curta.

No estômago
A hidrólise ou quebra das moléculas de lipídios continua no estômago pela ação da enzima lipase gástrica, que hidrolisa parte dos TAG em AG e diacilgliceróis, principalmente os de cadeia curta e média. Ainda no estômago, os movimentos de propulsão, retropropulsão e mistura na região antral possuem importante papel na emulsificação dos lipídios.

Imagem 1.

A emulsificação é essencial para garantir que as enzimas ajam no duodeno, pois aumenta a superfície de contato para a interação enzimática.

No Duodeno
Ao entrar na porção superior do duodeno, a gordura é composta por 70% de triglicerídeos mais de produtos da hidrólise que foram parcialmente digeridos.





A principal digestão da gordura ocorre no intestino delgado e necessita de sais biliares e da enzima lipase pancreática. Ao entrar no intestino, a gordura estimula a liberação do hormônio enterogastrona que inibe tanto a secreção, quanto a motilidade gástrica, tornando mais lenta a liberação de lipídios do estômago para o intestino.


A presença de gordura no intestino delgado (ID) também estimula a secreção de colecistocinina, que estimula as secreções biliares e pancreáticas.



Formação das Micelas de Gordura

Micelas são um conjunto de moléculas com cabeças polares e caldas alifáticas, cujas partes polares são hidrofílicas e as caldas alifáticas são hidrofóbicas.

A bile (sais biliares) é um líquido emulsificante produzido pelo fígado, armazenada na vesícula biliar e secretada pelas vias biliares que tem a função de formar micelas que incorporam os lipídios. Sais biliares agem de maneira semelhante ao sabão e detergentes, ajudando a degradar os glóbulos de gordura. 

Essa emulsificação é possível graças a natureza dos sais biliares que possuem uma porção polar que interage com a água, enquanto que a outra parte não interage (hidrofóbica). Desta forma os lipídios são finalmente dispersos no meio aquoso.

As micelas são os principais veículos no movimento dos ácidos graxos, monoacilgliceróis e glicerol da luz do intestino para a superfície das células da mucosa intestinal onde ocorre a absorção.

Na ausência de sais biliares, a absorção dos lipídeos é drasticamente reduzida com a presença excessiva de gorduras nas fezes (esteatorréia).

Ainda no Duodeno - Lipase Pancreática

A enzima produzida pelo Pâncreas, mas utilizado no Duodeno é principal enzima da digestão dos triglicerídeos, ela hidrolisa as ligações éster nas posições Sn-1 e Sn-3 da molécula de Glicerol. (Para quem não lembra que negócio é esse... teve um outro post que eu falei que TAG é uma molécula esterificada, que seria algo como "compactada", onde a molécula de glicerol funciona como um cadeado segurando três correntes de ácidos graxos).


Voltando...
Os ácidos graxos da posição central (Sn-2) dos monoglicerídios (triglicerídeos após a ação da lipase pancreática que liberou 2 ácidos graxos da molécula esterificada, lembra?) são resistentes à hidrólise pela lipase.


Então, essa lipólise feita pela lipase pancreática é extremamente rápida, por isso há produção de monoglicerídeos e AG livres muito maior do que a sua incorporação pelas micelas.

Desta forma os AG ligados na posição Sn-1 e Sn-3 se tornam menos biodisponíveis, pois ficam no lúmen intestinal podendo formar sais de Cálcio insolúveis e serem secretados nas fezes.

Bem, até aqui temos os AG livres que foram incorporados pelas micelas que estão em solução aquosa no lúmen intestinal aguardando serem transportadas até os enterócitos...

Transporte e Absorção dos Triglicerídeos

Próximo aos enterócitos, as micelas se dissociam e as moléculas de lipídios são absorvidas por meio de difusão na porção proximal do jejuno e os ácidos biliares são absorvidos na porção terminal do íleo.

Finalmente absorvidos, dentro dos enterócitos os AG livres migram para o retículo endoplasmático liso e são reesterificados ao glicerol e aos monoglicerídeos formando os triglicerídeos (TAG) novamente.

Os TAG ressintetizados em conjunto com o colesterol, os ésteres de colesterol, os fosfolipídios e as vitaminas lipossolúveis ainda são insolúveis em água (o sangue é um meio aquoso!), portanto necessitam das chamadas lipoproteínas transportadoras, que consistem em partículas ou macroagregados  formados por lipídios e proteínas, que possuem um núcleo hidrofóbico (composto pelo TAG e colesterol éster), envolvido por uma monocamada de fosfolipídios com a parte polar voltada para o meio aquoso e a parte apolar para o interior. As proteínas das lipoproteínas são chamadas apoproteínas. Existem várias lipoproteínas e cada uma delas são formadas por apoproteínas específicas, conforme abaixo:



Lipoproteínas:

Quilomícron
A imagem acima da tabela é a de um quilomícron. Apenas os AG de cadeia curta e média que foram absorvidos nos enterócitos podem ser liberados no sistema porta como AG livres, porém a maior parte dos AG presentes no TAG da dieta são de cadeia longa ou muito longa, fazendo com que não sejam liberados na corrente sanguínea. Por causa disso, esses AG são reesterificados dentro do enterócito para formar novamente os TAG... isso tudo eu já expliquei um pouco acima, mas relembrei para ficar mais claro! Então... esses TAG, Colesterol e vitaminas lipossolúveis são finalmente transportados como Quilomícrons, para serem secretados na linfa. 

Os quilomícrons (QM) secretados na linfa passam do ducto torácico para as grandes veias da circulação sistêmica. A apoproteína CII presente no QM, estimula a atividade da lipoproteina lipase, localizada no endotélio dos capilares sanguíneos do tecido adiposo e do tecido muscular esquelético. Essa lipase hidrolisa os TAG presentes no QM e os incorpora nos adipócitos e miócitos.

Desta forma, uma parte dos TAG exógenos é liberada para esses tecidos, diminuindo a quantidade de TAG do QM. Essa perda de parte dos TAG e a incorporação de outras apoproteínas fazem com que os QM sejam transformados em quilomícrons remanescentes (QMR) e sejam reconhecidos por um receptor dos hepatócitos, sendo então captados por endocitose.

Os QMR transportam para o fígado os lipídios exógenos (parte dos TAG, colesterol e as vitaminas lipossolúveis). Abaixo coloquei um resumo do metabolismo das principais lipoproteínas:


Lipoproteína de muito baixa densidade 
(VLDL - Very low density lipoprotein)
Produzidas e secretadas pelo fígado, as VLDL transportam TAG e colesterol exógenos que foram captados pelo fígado para as células do corpo através dos vasos sanguíneos para serem utilizados como energia. As VLDL no sangue também sofrem a ação da lipase lipoproteica, perdendo parte dos TAG, sendo transformados em IDL (intermediate density lipoprotein), que ao sofrer ainda ação da lipase lipoproteica, é finalmente transformada em LDL (low density lipoprotein), ou lipoproteina de baixa densidade.


Lipoproteína de baixa densidade
(LDL - low density lipoprotein)
Como já expliquei acima, as LDL são produzidas no sangue pelo catabolismo das VLDL e são consideradas lipoproteinas ricas em colesterol. As LDL tem a função de levar o colesterol para os tecidos, pois elas contém o colesterol exógeno (que chegou ao fígado como QMR) e também o colesterol endógeno (o fígado sintetiza 70% do colesterol). Porém a captação do LDL e do colesterol transportado por ele vai depender da necessidade dos tecidos, que é regulada por vários fatores como por exemplo a quantidade de colesterol dentro das células. Desta forma, quando existe a necessidade de colesterol, as células expõem na membrana um receptor que reconhece a Apo B100, que é a unica apoproteina presente no LDL, e a captação do LDL ocorre por endocitose.

(Captação da LDL mediada pelo receptor de membrana que reconhece a Apo B1006 - Imagem extraída do livro Tratado de Alimentação e Nutrição Volume 01- S.M.C.S. da Silva e J.D.P. Mura)


Lipoproteína de alta densidade
(HDL - High density lipoprotein) 
Essa é a menor das lipoproteínas, é produzida pelas células do fígado e intestino e secretada no sangue como HDL nascente, que possui forma discorde. O HDL tem como função recolher o excesso de colesterol do sangue e conforme recebem o colesterol éster no interior da partícula, passa a forma esférica, sendo assim reconhecido e captado pelo fígado por um receptor. Ou seja, o HDL é conhecido por fazer o transporte reverso do colesterol e desta forma reduzir os níveis sérios de colesterol e consequentemente o risco de doenças cardio vasculares (DCV).

LIPÓLISE
Quando há uma demanda energética maior como durante exercício vigoroso, ou em resposta ao estresse e até mesmo durante um jejum prolongado, os TAG são hidrolisados pela ação da lipase hormônio sensível (LHS), sendo então liberados na circulação e levados aos tecidos periféricos para a Betaoxidação e produção de ATP.

Falarei detalhadamente da Lipólise juntamente com a betaoxidação em um próximo post quando for falar também das principais vias metabólicas da glicose e das proteínas.

Por hoje é só pessoal... vou dar um tempo no metabolismo porque estou precisando estudar mais UAN, SAÚDE PÚBLICA, FISIOPATOLOGIA e DIETOTERAPIA,  então os próximos posts serão relacionados a esses temas, e na sequência eu volto para concluir o metabolismo.

Bons estudos pra quem estiver comigo nessa e até a próxima! Bjs!
Jéssica